O cego é um consumidor?

Ao montar o curso de violão para deficientes visuais, aprendi uma nova forma de perceber o mundo.

No momento em que escrevi esse texto estou tendo que me policiar o tempo todo para não dizer a palavra “ver”, mesmo que em sentido figurativo. Pois ver é apenas um dos nossos sentidos, mas com certeza o mais superestimado.

Depois que montei o curso, comecei a estudar como atingir o público consumidor que nesse caso seria o deficiente visual.

Não encontrei em nenhum lugar, um único estudo de mercado, pesquisa, ou marketing voltado exclusivamente para esse público.

O que me fez pensar, o deficiente visual não é consumidor? Não tem o direito de ter um produto que atenda as suas reais necessidades?

A última estimativa do IBGE que é de 2012, e com certeza está vem desatualizada, informa que esse publico está em torno de 6,5 milhões de pessoas, sendo 550 mil cegos, e 6 milhões de portadores de baixa visão.

Considero que seja um público alvo que não pode ser subestimado.

Encontrei muitos softwares para deficientes visuais que são feitos de forma gratuita, mas que apresentam enormes falhas técnicas. O que adianta ser gratuito se o cliente não pode reclamar? Se ele não pode avaliar as deficiências do software, como mostrar ao produto que ele deve e pode evoluir?

Outra dificuldade foram as lojas virtuais, normalmente os gerenciadores de conteúdo como opencart, que facilitam para que o pequeno lojista monte sua loja virtual, não tem uma painel de acessibilidade, finalizar uma compra se torna um suplício. Mas o pior é que o pequeno lojista não tem boas ferramentas para implantar uma loja que torne a vida do comprador deficiente visual mais simples.

Como buscar soluções para essas situações?

No meu caso, estou testando cada passo com um leitor de telas instalado em meu computador para avaliar cada dificuldade que o cego pode encontrar para finalizar o seu pedido, mas a dificuldade é encontrar uma solução de código adequada, por isso acaba sendo necessário se adaptar as limitações dos códigos existentes buscando uma que dê maior independência ao consumidor cego.

Não foram apenas esses os problemas encontrados, mas creio que o que ocorre é justamente uma mentalidade que não trata o portador de deficiência visual como um consumidor, mas alguém para ser tratado como um coitado a quem estamos fazendo um favor.

Discursos de inclusão são muito bonitos, mas a verdadeira inclusão ocorre quando se dá ao consumidor um produto de qualidade e com real interatividade entre o vendedor e consumidor.